Futuro do pretérito

Eu nunca imaginei chegar ao dia de hoje sem você. Mas eu cheguei. Eu cheguei. Eu aprendi a viver sem você. Era o entardecer de uma sexta-feira quente, tão quente quanto todo o amor que nutri por ti. Quando os ventos fortes daquele dia sopraram pude contemplar teus olhos. Eu nunca posso esquecer deles, por mais que te amar não signifique mais uma tortura. Os dias em que o amor não nos acolhe são como os infernos que Dante não descreveu. 

Naquele dia mesmo, como por um plano de todos os anjos e demônios, após eu me apaixonar ao te ver, nos falamos. E você me deu um nome e uma vida. O primeiro homem que amei na vida era garoto-homem de 16 anos. Mas ele parecia um deus e não um garoto. Ele era mais do que um menino. Ele já era um homem. Eu nem sabia ainda o que era ser uma mulher. 

O conheci numa viagem que lutei para não fazer, num lugar onde não queria estar. Foi como um momento tão efêmero e tão longo, como um desafio às leis que regem o tempo e o espaço. Em meus pensamentos revisitei aquele momento e ele pareceu o mais longo e o mais breve da minha vida. Uma vertigem. A vertigem. Vertigem.

"O que é vertigem? Medo de cair? Mas porque temos vertigem num mirante cercado por uma balaustra sólida? Vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados."

A voz do vazio e o insano desejo de me jogar. Hoje sei que foi isso o que senti. 

De ti ganhei meu nome e o que sempre quis e nunca tive coragem. Não em tempo hábil. Não em tempo suficiente.

Há um arrependimento pretérito e presente impregnado em meus pensamentos: não ter provado do gosto dos teus beijos, do movimento de tua língua na minha. De não ter encostado meu corpo no teu e te despertar as mais ardentes sensações. Me arrependo das carícias que não trocamos, dos abraços não dados e dos silêncios não preenchidos com os movimentos de nossos corpos. Em algum lugar de meus insanos devaneios todas essas coisas se deram. E continuam a acontecer.


Marcela S Santos

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