Reflexões sobre a representatividade feminina no mangá de Dragonball



Uma amiga me emprestou os quatro volumes iniciais do mangá de Dragonball. Acredito que muitos dos leitores desse texto, assim como eu, fizeram parte da geração que assistia o anime dublado na Globo. A verdade é que esse foi o primeiro anime de boa parte dessa geração, ainda que hoje não tenham costume de ler mangás e assistir animes.

Adoro assistir animes, mas sempre deixei os mangás de lado, por isso decidi me aventurar e começar a lê-los agora depois de tantos anos, e o que seria melhor para começar que Dragonball? Antes de começarmos, vamos àquela explicação bem básica: (1) Shounen é a categoria de anime, mangá ou jogo que é direcionado aos público jovem masculino. (2) Além disso, lembre-se que deve ler as imagens da direita para a esquerda. Agora sim podemos seguir em frente.

Opinião geral: é um mangá extremamente machista, até para um shounen (e recentemente fui informada que existem piores e mais atuais). Vai ter gente aqui comentando que eu não sei nada sobre, mas assisto animes desde que me entendo por gente, então eu sei sim sobre as categorias dos animes e entendo que existam animes/mangás apelativos, mas em Dragonball isso é muito escrachado. Todas as mulheres que aparecem tem algum tipo de apelo sexual, e pra provar, vou citar algumas.




Nas imagens acima há o Oolong dopando Bulma para se "divertir" com ela. Não entendeu ainda? Isso é estupro.

Embora o porco tarado não consiga fazer nada por ser atrapalhado pelo Yamcha, nada no mangá dá a entender que ele e as outras figuras masculinas estão errados.

Na imagem abaixo o mestre Kame pede como troca de favor que Goku convença Bulma a deixá-lo tocar nas suas "duas qualidades frontais". Nessa situação - e em várias outras - as mulheres são tidas como moedas de troca, sendo claramente objetificadas.


Digo personagens femininas por que embora a Bulma seja a personagem com maior foco, ela não é a única que é objetificada, estereotipada e abusada.

Como exemplo do esteriótipo feminino, tomo a personagem Fanfan que aparece apenas no quarto volume como semifinalista dos torneios de artes marciais que definem os mais fortes do mundo. Na luta contra o lutador Nam, sua estratégia de combate para competir entre os melhores é a seguinte:

     























O choro e a sensualidade são as armas que permitem que Fanfan esteja entre os melhores do mundo, e sim, é preciso repetir várias vezes essa informação.

Mesmo personagens fortes tem que ser salvas por um homem ou querem, quase que desesperadamente, namorar ou casar. Não vou muito longe, Bulma começa a procurar as esferas do dragão para desejar um namorado; quando Goku apalpa Titi para saber se ela é homem ou mulher ela já começa a pensar em casamento, e por aí vai. Enquanto isso as figuras masculinas se aproveitam da ingenuidade feminina.

Embora essa questão continue a me incomodar - incomodar ao extremo, diga-se de passagem - , a história é boa, mesmo que eu não consiga me situar nessa estranha linha do tempo em que existem dinossauros e cápsulas pói (aquelas que jogam no chão que viram uma casa, uma moto, um avião e várias outras coisas).

Não falei ali em cima, mas é bom que a gente considere o contexto de publicação, o ano de 1984 no Japão. O feminismo não estava tão difundido ainda aqui no Brasil, imagine no Japão de 84. É preciso considerar também que a maioria gritante das publicações de mangás - e aqui me refiro a eles em uma perspectiva mais geral - eram destinadas ao público masculino. A maioria das publicações ainda é direcionada aos homens, ainda existe muito machismo no contexto japonês, e ainda há muito o que melhorar.

Não quero com essa postagem desmerecer o mangá e o anime de Dragonball, tanto que ele me fez rir com as piadas óbvias e as lutas hilárias. Indico a leitura com essas importantíssimas ressalvas.

Você já leu/assistiu Dragonball? Tinha reparado essas questões?

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