Revisionismo

O revisionismo faz parte das ciências de uma forma geral. Consiste em rever, reexaminar, interpretar e lançar novas questões e descobertas, assim como críticas. No caso específico da História, novas perspectivas permitem novas abordagens e metodologias, novas formas de interpretar o passado, a partir de novas fontes históricas ou de novos olhares para fontes já conhecidas.

No entanto, nos últimos anos, percebemos que alguns fatos ou processos históricos estão sendo "revistos" de forma a favorecer determinados grupos, excluindo o caráter científico e acadêmico da História e valorizando interpretações que não levam em consideração a historiografia e os especialistas, ignorando o caráter de ciência da História.

Trata-se de uma negação de episódios da História nacional e internacional que são questionados e até mesmo negados por grupos conservadores ou com interesses em anular determinadas compreensões do passado.

No filme Negação (EUA/ Reino Unido - 2017) uma pesquisadora combate um historiador que nega a existência do Holocausto. A narrativa cinematográfica põe em evidência a pesquisa histórica e as narrativas do passado, assim como as disputas que envolvem os indivíduos do presente, que buscam no passado uma legitimação de ideias que estão mais relacionadas ao seu tempo do que ao pretérito. 


No Brasil, tem sido comum alguns grupos e até mesmo autoridades negarem acontecimentos que envolvem torturas, execuções e outras ações que ocorreram durante o período da ditadura militar (1964-1985). Em muitos livros didáticos do período, o golpe instituído em 1964 é tratado como "revolução". No presente, esse conceito é uma estratégia, por parte de quem o usa, para negar o passado e retomar discursos que não mais se sustentam do ponto de vista histórico, como por exemplo, afirmar que o Brasil estava sob a ameaça de uma revolução comunista. 

O chamado revisionismo histórico tem provocado inúmeras reações de estudiosos e de grupos da sociedade. Contudo, acredito que devemos nos perguntar: seria revisionismo ou negacionismo?

Cabe ressaltar que muitos acontecimentos e interpretações estudados e apresentados por estudiosos estão sendo questionados por "achismos", sem nenhuma evidência histórica.

O revisionismo histórico faz parte do trabalho do historiador, mas ele deve ser baseado em pesquisas e estudos e não apenas na "opinião" política ou em tentativas de buscar no passado legitimidade para ações no presente.



Marcela S Santos

Mãe solo, feminista, professora da rede pública, historiadora e mestra em História Social.

Metida a fazer comidinhas, cuidar de plantas e sonhar com coisas (im)possíveis.



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