Um dia de chuva
Da
sua varanda conseguia ver o quintal do vizinho à frente. Havia
árvores bem antigas espalhadas pelo terreno, de vários tipos que
ela não saberia nomear. Em especial, havia um coqueiro. Ele a
espiava através da varanda, como quem diz “Bom
dia, vizinha!”.
Ela retribuía, lançando olhares de volta. Ao lado do coqueiro
existia uma mangueira que pertencia ao vizinho do vizinho. Apenas um
muro baixo separava as duas árvores e os dois quintais.
Aquele
dia chovia e isso a deixava mais melancólica do que costumeiramente
era. Debruçou-se na varanda com a mão no queixo e começou a
observar o diálogo botânico do quintal alheio.
A
mangueira era espaçosa, vaidosa, altiva e firme. Suas folhas bem
verdes reuniam-se de forma organizada e em uma mesma direção,
dando-lhe um aspecto arredondado e rechonchudo. A mangueira era
misteriosa e parecia buscar constantemente esconder-se dentro de si
mesma, encobrindo seu interior com uma infinidade de folhas
verdes.
O
coqueiro, por sua vez, era menor e curvado, um pouco corcunda, ela
diria. Suas folhas bem flexíveis se estendiam de maneira
desorganizada. Algumas folhas estavam secas, prestes a se
desprenderem. Não havia mistérios: de longe era possível ver o
centro do coqueiro, oferecendo seus frutos de peito aberto.
Ela
percebeu que o coqueiro curvava-se em direção à mangueira,
estendendo suas folhas por cima do muro. Seus troncos estavam há
alguns metros de distância um do outro, mas algo curioso pode ser
observado: suas folhas se tocavam.
As
folhas do coqueiro eram compridas e extensas; a mangueira,
arredondada, possuía apenas um galho que, destoando da harmonia
polida das demais folhas, a deformava: era o galho que tocava o
coqueiro. Ele se estendia como um braço tímido e discreto.
E
chovia. As folhas das duas árvores estavam encharcadas e pesadas,
mas permaneciam ali: juntas e molhadas. De mãos dadas, ou melhor, de
“galhos dados” esperavam pacientemente a chuva passar. O vento as
sacudia em várias direções, mas suas raízes bem fincadas no solo
sabiam que nada lhes aconteceria, era apenas mais uma chuva. Ela viu
quando um vento forte separou as duas árvores abruptamente. Cada uma
sendo levada em uma direção diferente. A chuva engrossou e ela teve
de se afastar um pouco da varanda.
A
chuva continuava grossa, mas o vento havia diminuído sua
intensidade. Deu mais uma espiadela antes de entrar em casa e pode
ver que os galhos haviam voltado a se tocarem, mantendo o equilíbrio
normal daqueles dois terrenos.
A grama do vizinho era mais verde? Não, mas era bonito de se ver.
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