A garota francesa - parte III


Isso aconteceu há seis meses e sempre volta à minha mente.
Há seis meses vivo nesta casa, em companhia dessas mulheres, tentando entender porque esse tipo de monstruosidade acontece... Tentando conviver com essa fera dentro de mim...
Estava sentada no balanço que fica no jardim, próximo a um chafariz enfeitado com anjos, quando comecei a sentir um cheiro misto de cravos e magnólias... Era Catherine que se aproximava... Logo pude ouvir seus passos.
– O que você faz aqui fora? Entre!
– Tenho que me acostumar com minha situação. Tenho que me controlar.
– Eu entendo... Mas não é ficando sozinha aqui fora que você conseguirá isso. Venha! Entre!
Enquanto atravessávamos as grandes portas de madeira mogno, ela disse, mais docemente:
– Não se esforce demais... Com o tempo, você se aceitará e aprenderá os lados bons disso... O medo é a emoção que move todos os humanos...
– De onde você tirou isso?
– Não sei... Ouvi em algum lugar, eu acho.
– Temos visitas? – meu olfato havia capturado odores diferentes.
– Há alguém que você deve conhecer...
Seguimos, em silêncio, pelo amplo corredor até a biblioteca. Da porta, avistei Claudia ao lado do calor da lareira. Mas foi quando entramos que identifiquei os cheiros diferentes. O homem tinha fragrância de pós barba de erva cidreira, mas seu odor original era mais amargo.
– Posso deduzir que meu odor deva, de certo modo, rememorar um bom whisky, então. – disse o homem, em meio a um sorriso. – Creio que meu disfarce não foi eficiente...
O que foi aquilo?... Deixa para lá... A esbelta mulher, que estava sentada no sofá ao lado dele, chamaria a atenção de qualquer um... Sua beleza era gélida, sua pele alva, os olhos calmamente contemplativos, mas com um ar assassino, e os cabelos estavam muito bem arrumados, presos sob um pequeno chapéu de veludo negro. Sua fragrância era-me muito familiar. Um cheiro amargo... e férreo... Enjoativo para alguns... Adorável para outros...
Ela levantou-se e veio em minha direção, estendendo-me sua mão direita, que levava uma luva de seda, igualmente negra.
      – Olá, Marie!... Sou Suzan Harks.

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