A alucinação com Belchior

"A minha alucinação é suportar o dia-a-dia,
E meu delírio é a experiência com coisas reais"


A imagem pode conter: 1 pessoaComecei a ouvir Belchior quando era adolescente. Eu atualmente tenho 24 anos. Tive sorte de conhecer suas músicas, nas minhas quebradas não é um som muito comum. A memória que tenho de ouvir sua voz pela primeira vez é sempre ligada a uma música imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, chamada Forró no escuro. E não sei porque, aliás, eu até sabia, mas isso era demasiado subjetivo para explicações faladas e racionalizadas, de alguma forma a música sempre foi um poderoso instrumento de enfrentamento da minha solidão e tormentos dos meus pensamentos. Assim o foi com a música de Belchior, que depois conheci por uma coletânea MP3, um tipo de cd/ dvd que reproduzia áudio nesse formato e era vendido por meus amigos por um valor que era mais ou menos R$ 3 reais. 

Conheci Belchior, podemos falar assim, pelo mercado marginal, pela pirataria, por formas mais alternativas à época, pra quem era lisa/o. A internet ainda não era isso de que todo mundo tem hoje num celular. Antes era no computador e os mais pobres mesmo não tinham acesso. Uma transformação avassaladoramente recente e rápida, que tem mais ou menos uma década, talvez menos. Hoje é raro quem não tenha acesso. 

Sobre Belchior, posso dizer que sua produção musical e sua trajetória me alcançam profundamente e como já escrevi, é difícil descrever a arte de forma racional, sobretudo quando ela nos chega de uma forma avassaladora, revolucionária. Posso dizer que eu também sou o que sou devido a esses diálogos, esses contatos que temos com a música. Mais precisamente com as de Bel. 

Essas mudanças que vivemos em nossa existência breve nesse mundo podem ser demasiado intensas. E posso escrever aqui que eu mudei e aprendi muito com as canções, levei uma delas para os meus alunos para falar de colonização, a canção se chama Quinhentos anos de quê. Outra apresentei em minha avaliação final de uma disciplina, que era a única que faltava para eu me formar no curso de licenciatura em História. Foi uma boa experiência, mas acabei não conseguindo falar de Belchior, descrevê-lo, falar de sua história, porque tem coisas que não conseguem ser faladas, mas apenas sentidas. Essa escrita nunca chegará perto de expressar a importância e a tristeza pela partida de Belchior. 

Espero que nessa vida meio sem sentido possamos nos inspirar, revoltar, amar e simplesmente viver as emoções da experiência com a vida e arte de Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou como todo mundo prefere, simplesmente, fortemente, Belchior. 

Minha alucinação real - e irreal - com Belchior, me salvou e tem me salvado das alucinações assassinas da existência.

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