Susan Harks - IX - X
AGRADÁVEL SURPRESA
Finalmente chegamos à Moscovo. O
inverno russo já se havia instalado e, para nossa sorte, havíamos levado alguns
agasalhos. Contudo, nenhum deles era realmente útil para o clima frio
siberiano.
Na estação, Anne enviou um telegrama
antes de seguirmos para uma hospedagem indicada pelo atendente. Depois de,
aproximadamente, meia hora, chegamos a uma estalagem de dois andares. A
construção era de madeira e o ambiente tinha um aspecto envelhecido. Apenas na
manhã seguinte, consegui distinguir as cores, já desbotadas, da pintura. O
vermelho, que algum dia fora vivo, agora mais parecia uma cor salmão.
Acordei desnorteada, reflexo de uma
noite de sono recompensadora. Levantei e aproximei-me da janela. Lá fora, a
neve, que caíra durante a noite, provavelmente depois do horário que chegamos,
acumulava-se.
– Bonito, não?
Virei-me assustada. Não havia
percebido que An já havia acordado e se pusera junto a mim.
– Sim, é realmente lindo.
– Você dormiu bastante! Precisa
vestir-se para reunirmo-nos aos outros no desjejum.
***
Descemos as escadas e An dirigiu-se
ao balcão da recepção. Ela iria pedir uma carruagem para logo após o café da
manhã.
A refeição foi simples, apenas pão
endurecido e um copo de água quente para cada um. Ao terminarmos o desjejum,
dirigimo-nos novamente à recepção. Lá fomos informadas de que nossa carruagem
já nos aguardava.
– As senhoritas querem que as
acompanhe? – perguntou Douglas.
– Não será necessário. Logo
voltaremos. – respondeu Anne.
Saímos da hospedaria e entramos na
carruagem.
– Para a estação de trem. – disse An
ao cocheiro.
– Por que iremos à estação? –
perguntei intrigada.
Anne sorriu-me, mas permaneceu em
silêncio. Ao chegarmos a estação, ela dirigiu-se ao balcão de atendimento.
– Bom dia, senhor! Há algum
telegrama para mim? Sou Anne Ross.
– Aguarde um instante. – e, após
alguns minutos remexendo papéis em gavetas sob o balcão – Não, senhora. Não há
nada endereçado à senhora.
– Estranho! – comentou An,
pensativa. E olhando novamente para o atendente – Obrigada!
Saímos da estação em direção à
carruagem, que nos aguardava. Foi quando percebemos um homem, usando cartola e
uma longa capa cinza-escura, conversando com o cocheiro. Olhei para An e vi
surgir em seu rosto um aspecto de alívio... Ou seria esperança... Conclui que
ela conhecia-o.
– Minha senhora. – disse o homem,
retirando a cartola e fazendo uma respeitosa reverência.
Nesse momento, reparei sua face
envelhecida, deveria ter seus sessenta anos. Os olhos eram fundos e a barba
cheia não permitia conhecer seus reais traços.
– Doutor, que bom vê-lo! –
cumprimentou-o An.
Subimos os três na carruagem e
seguimos o caminho de volta à hospedagem.
– Pensei que o senhor responderia
meu telegrama. – disse Anne ao homem.
– Achei melhor vir encontra-la
pessoalmente. Todos estão aqui?
– Sim. Estão descansando. Assim que
chegarmos, reunirei todos.
– Claro.
***
Ao chegarmos, Anne deixou-nos, seu
convidado e eu, em nosso quarto e foi ao dormitório onde estavam instalados
Stanner, Thompson e Flourbe. De lá, retornou acompanhada por Douglas.
– Senhor Flourbe saiu à procura de
Richard. Logo estarão aqui. – disse An ao adentrar o recinto e dirigir-se a
ponta de sua cama, próximo de onde aquele senhor havia sentado.
Douglas veio para meu lado, junto a
janela.
– A senhorita gosta da neve? –
sussurrou ele ao meu ouvido.
– É linda... Nunca a havia visto tão
branca... – sussurrei. Creio que, em nosso íntimo, não queríamos ser ouvidos.
– O que você sente ao vê-la?
– O que você quer dizer?
– Apenas acho a neve muito fria para
você... Você é quente, Susan... Sua paixão é quente...
– Talvez, por isso, goste dela...
Deveria aprender a ser fria...
– Não acho que isso seja certo. Você
é quente, porque é sincera... E sua sinceridade é intensa como o fogo...
– Douglas...
Nossa conversa foi interrompida com
a chegada de Thompson e Flourbe.
***
– Agora que todos estão aqui, -
disse An, levantando-se – posso fazer as devidas apresentações. Este é Abhram
Volter. Ele é o médico que cuidou de meu marido e o qual está ajudando-nos em
nossa espreitada.
Agora, tudo se tornava claro, o
porquê da confiança de Anne naquele senhor e o último telegrama que nos
apresentou, em sua casa.
– Creio que todos estejam a par da
história de meu jovem amigo. – disse Volter. Somente agora reparava em sua voz
enrouquecida pela idade. – Vim a Moscovo seguindo as pistas que Anry enviava-me
por telegramas... – consultou seu relógio de bolso – Peço que se preparem.
Deixarei com a senhora Ross um endereço. Vocês devem estar neste local às oito
horas da noite. Agora, devo partir.
Despediu-se de todos e saiu, seguido
por An.
***
Aquela tarde passou lenta, como se
crescesse uma verdade em nossos corações. Estava apreensiva por Anne.
– Tudo bem, Susy? Parece preocupada?
– Estou preocupada por você! Se
entendi bem, o doutor Volter tem comunicado-se com Anry.
– Creio que sim... Entendi o mesmo
que você. E entendo sua preocupação, minha querida. Não nego que meu coração
enche-se de alegria em pensar que Anry está bem. Mas... – sua voz mudou de tom
e, agora, ficara entrecortada – Algo me diz que tudo mudou... Que ele não é
mais o meu Anry.
***
Às sete horas, descemos todos a
recepção para embarcarmos na carruagem. Apenas Anne sabia para onde iriamos,
mas ela adiantou nossa saída devido a possível distância até o local do
encontro.
Saímos da hospedaria e seguimos por
ruas cheias de neve. Deslocamo-nos durante um considerável tempo, até chegarmos
a uma rua movimentada. Corri os olhos pelos arredores e distingui pessoas
tocando e cantando, outras com livros nas mãos e vários grupos de conversa.
Descemos da carruagem e nos
direcionamos para um dos postes centrais da larga calçada. Cercados pela
multidão, permanecemos ali por alguns minutos. De repente, An soluçou. Virei-me
para ver seu rosto e lágrimas escorriam pela sua face. Girei meu corpo na direção
em que ela olhava e vi, ao lado do casaco cinza-escuro já conhecido, vinha,
caminhando em nossa direção, uma outra silhueta familiar. Não poderia ser...
Mas era... Era ele...
Segundos alongavam-se mais do que o
cientificamente permitido, até que ele estivesse diante de nós... Olhei,
novamente, para Anne. Agora, ela tentava mostrar-se forte. Virei, mais uma vez,
para confirmar quem era o dono daquela familiar silhueta. Sim, era ele... Era
Anry Ross.
– Boa noite a todos. – disse doutor
Volter – Este, para quem não o conhece...
– Anry... Anry Ross. – disse
Thompson, aproximando-se do amigo de longa data.
– Olá, Richard. Não mudou, em nada,
seus modos, velho amigo. – falou Anry. Sua voz era mais suave do que me
recordava... Mais macia... Ele levava a gola da capa erguida e a cabeça estava
inclinada, como que intencionalmente escondendo os olhos.
– Não teria graça, mudar quem eu
sou... – respondeu Thompson, em meio a em sorrisinho.
– Bem... É sempre bom encontrar
amigos. Contudo, a situação exige maior acuidade. – disse Volter – Trouxe Anry
aqui para que ele esclareça-nos particularidades de nossa empreitada.
– Serei rápido, mas começarei do
princípio. – iniciou Anry – Estudei com doutor Volter por um tempo, durante a
faculdade. Criando especial interesse pelo método e pelas particularidades que
hoje conheço tão bem... Chamou-me a atenção, certa vez, um caso, não resolvido,
o qual envolvia inexplicáveis desaparecimentos. Acompanhei os relatos tão de
perto e durante tantos meses, que, inconscientemente, virei alvo de minha
presa... – ele posicionava-se como se olhasse para Anne. Talvez quisesse
redimir-se com ela, mais do que contar-nos sua história.
– Ele chama-se Bartholomeu Bertrand
e, em seus 270 anos de escuridão, criou inúmeros filhos. – continuou Anry – A
causadora dos relatos que acompanhei era uma de suas filhas. Rita saiu do
controle de Bartholomeu e, antes que ela causasse mais problemas a ele, foi
exterminada. – sua fala tinha um toque de raiva, mas era superficialmente muito
segura. Era como se tivesse perdido todos seus sentimentos. – No dia de nosso
casório, ele seguiu-nos e, depois dei-me conta de seu plano... Queria
transformar-me. Ao menos, assim, achava que solucionaria seu problema comigo. –
enquanto Anry prosseguia, observei as feições de Anne. Lágrimas haviam voltado
a correr por sua face. – Tive que abandonar minha esposa, devido a
transformação. Não queria colocá-la em risco.
– Uma vez transformado, você fica
conectado a seu criador. – prosseguiu – Então, sabia onde Bertrand estaria e vim
para o seu covil. Com meus instintos primitivos controlados, pude entender a
maneira como o grupo age e o objetivo de Bartholomeu. Ele captura crianças para
cria-las, até uma idade adequada para transforma-las. Os adultos capturados são
apenas para alimentar a prole. Dificilmente são transformados... Agora que já
conhecem seu inimigo e o que ele é, podem, com a ajuda de doutor Volter,
estudar as possibilidades de vencê-lo... – Anry ficou pensativo, por um
momento, e continuou – Vocês têm dois dias... Eles estão preparando-se para um
novo ataque e o covil ficará fragilizado. O doutor sabe a localização... – ele
ficou pensativo novamente – Agora, devo ir.
Ele deu alguns passos e parou ao
lado de Anne. Falou-lhe algo ao ouvido e sumiu na escuridão.
– Amanhã irei à hospedaria vê-los. –
disse Volter – Levarei meu material de pesquisa para prepararmo-nos.
Dito isso, seguimos em silêncio até
encontrarmos uma carruagem. Nos despedimos do doutor e voltamos a estalagem.
A PREPARAÇÃO
Acordei, sobressaltada com o barulho
que o vento fazia. Estava escuro e frio. Prestei atenção e ouvi a chuva batendo
à janela. Deixei-me ficar na cama. Mas An adentrou o quarto...
– Que bom que acordou. Logo servirão
o desjejum.
– Já amanheceu? – já havia perdido a
noção de tempo em meio ao inverno daquele lugar.
– Já sim... São quase oito da manhã.
– An respondeu com um sorriso, contudo senti sua voz apreensiva.
– O que houve?
– Estou preocupada... Tenho medo do
que possa acontecer nesse confronto... Fiquei profundamente feliz em ver Anry.
Mas também confirmei o que temia... Ele mudou... Ele tornou-se igual àquele
homem loiro de olhos vermelhos... Mas eu ainda o reconheci... Ainda era meu
amado... E ele ainda me ama... – apesar de tensa, as lágrimas que escorriam de
seus olhos eram de felicidade e de amor. Um amor puro que deseja a companhia de
quem se ama.
Levantei-me e abracei-a.
– Chegamos até aqui... Viemos a um
ponto além de nossa provençal imaginação... Deixamos de ser meninas educadas para
a casa. Tornamo-nos mulheres que perseguem seus sonhos... Essa é nossa maior
força!
Anne abraçou-me mais forte e ambas
deixamo-nos encorajar por aquela ideia.
***
Descemos ao saguão para juntarmo-nos
aos outros. Enquanto tomávamos o café da manhã, doutor Volter chegou, com duas
maletas. Ele esperou que terminássemos e, então, todos subimos ao nosso
dormitório.
O médico sentou-se na única poltrona
que havia no quarto, de modo que nós cinco organizamo-nos nas duas camas de
solteiro. Ele colocou uma maleta sobre a mesa de apoio, que ficava ao lado de
onde estava sentado, e abriu a outra, que havia posto sobre suas pernas,
retirando de lá blocos de anotações.
– Aqui está tudo o que consegui
averiguar durante meus quinze anos de pesquisa sobre esse tema... Há notícias
de jornais, trechos de histórias populares, observações minhas e relatórios de
autopsias... – falava a medida que folheava os papéis.
– E a outra maleta? – interrogou
Thompson.
– Tudo a seu devido tempo, senhor. –
respondeu-lhe o médico.
– Seria interessante uma detalhada
explanação sua, senhor Volter. Pois, se bem entendi, temos algo de urgência. O
que nos impede de analisar suas anotações. – Flourbe havia rapidamente
percebido que não seria adequado o estudo daquele material.
– Claro! O tempo flui contra nós.
Então, comecemos... – o doutor puxou uma folha de jornal dobrada entre suas
anotações – O primeiro relato, a que tivesse acesso, ocorreu em 1935... –
estendeu a mão, entregando o jornal a An – A notícia diz que assassinatos
violentos aconteceram aos arredores da capital italiana. A autopsia detectou
como causa mortis a perda de grande
quantidade de sangue através de pequenas perfurações localizadas ao longo do
corpo da vítima... Uma investigação levou a uma jovem mulher que, estranhamente,
escondia-se em uma cova do cemitério local. Após ser cercada e agredida pelos
cidadãos da cidade, o que resultou em uma violenta reação por parte dela, um
dos investigadores decapitou-lhe com um facão. Muitos comentaram que ela foi
perfurada por facas e balas, mas nada a fazia parar... Dez pessoas foram
rasgadas por suas presas, àquela noite... E para garantir que o caso havia sido
encerrado, os moradores colocaram fogo no cadáver da moça.
– A literatura, desde a Idade Média,
– continuou ele – relata vários casos como esse. Seres que moram na escuridão
de tumbas, saem à noite para saciar sua sede de sangue, sofrem modificações
fisiológicas, ficando entre os vivos e os mortos... Todos filhos do primeiro
existente... Não se sabe de onde essa abominação
veio...
– Mas sabemos como destruí-lo? –
perguntou Douglas.
– Apenas temos os relatos... Nada
comprovado pela ciência... – disse o doutor.
– Você disse que exterminaram uma,
cortando-lhe a cabeça e queimando-lhe. – retrucou Richard.
– Contudo, por serem criaturas
mortas, não podemos facilmente mata-las. – explicou Volter – Muitos falam que
cravar uma estaca de madeira no coração mata-os, outros apenas dizem que os
paralisam. Para estes, o melhor é que se corte a cabeça. Entretanto, é de comum
acordo que não podem ter contato com o sol, pois isso realmente mata-os. Por
isso dizem que essas criaturas só saem à noite.
– Então, devemos pensar em um modo
de aprisioná-los até que o sol nasça. – concluiu Thompson.
– Se fosse tão simples, como o
senhor sugere, não nos teriam trazido até aqui. – pronunciou-se Flourbe.
– Já que não sabemos, exatamente, o
que mata essas criaturas... Pelo menos, sabemos o que nos protege deles? –
perguntei.
– Novamente, não temos nada certo...
– Volter abriu a maleta que estava sobre a mesa de apoio, deixando que nascesse
em nós uma curiosidade sobre aqueles objetos – Aparentemente, flores de alho afasta-os.
Certos relatos dizem que água benta e crucifixos faze-os recuar, mas pude
testá-los em uma perseguição a qual participei e não causaram nenhum efeito na
criatura...
– Anry falara em covil, – disse An,
pronunciando-se pela primeira vez, desde o início daquela reunião – De que se
trata?
– Covil é como nós, caçadores,
chamamos a casa em que a criatura vive com suas crias. Onde dormem, alimentam-se
e tomam conhecimento dos planos do mestre. – esclareceu o doutor – O número de
membros de um covil pode ser muito grande e há as crias que não convivem com
seu mestre, apesar de estarem conectados...
– E que local é esse que invadiremos?
– perguntou Douglas.
– O covil que invadiremos – iniciou
Volter – está em um local de difícil acesso, já que é cercado por muralhas.
Entraremos na troca de guardas, entre oito e nove horas da noite... Devemos ser
discretos... Iremos esconder-nos e atacaremos com a luz do dia. Preparem
comida, agasalhos e o equipamento necessário para protegerem-se... Estaremos em
duplo perigo, pois os guardas fazem rondas e tem permissão para atirarem em
qualquer situação estranha.
– Então, devemos ter armas contra as
criaturas e contra humanos?! – disse Richard, com um meio sorriso – Estou
começando a gostar disso...
– Teremos um dia para conseguirmos
esses suprimentos que o senhor indicou... – interrogou An, fazendo anotações –
Há mais algo que devemos atentar-nos?
– Apenas descansem, se puderem. –
respondeu Volter – Depois de amanhã será um dia tenso. – e recolhendo seu
material – Virei ao encontro de vocês na noite do dia marcado... Estejam
prontos.
Ele levantou-se, seguido por Anne, e
dirigiu-se a porta do quarto. Ela agiu como se o fosse acompanhar mais adiante,
ao que ele reagiu fazendo um gesto de que não seria necessário... A porta
fechou-se atrás dele.
***
Permanecemos o resto da tarde e da
noite conversando sobre o evento decisivo. Decidindo quem conseguiria o quê e
discutindo sobre a possibilidade do tempo siberiano e sobre o covil do qual
Abhram Volter falou-nos.
– Isso deve tratar-se de uma
doença... – disse Douglas, intrigado.
– Se o é, nosso conhecimento
cientifico ainda não identificou ou classificou. – refutou Flourbe – Se o
houvesse feito, o senhor Volter passar-nos-ia mais certezas que hipóteses.
Ter-nos-ia avisado sobre uma possível contaminação e haveria indicado métodos
de tratamento, caso isso ocorresse.
– A verdade é que esse senhor não nos
disse nada de útil. – posicionou-se Thompson.
– Não diga isso, Richard! –
indignou-se An.
Ainda não havia digerido toda aquela
informação... Não havia feito as devidas conexões... Sentia meu raciocínio
demorando a formar-se. Minha cabeça pesava sobre a cabeceira da cama, na qual
havia recostado-me. Ouvi as vozes, cada vez mais baixas e distorcidas...
Adormeci...
***
Minha cabeça doía... Depois de algum
esforço, consegui abrir os olhos...
– Ainda é noite? – perguntei,
retoricamente. Não havia percebido a presença de Richard sentado ao lado de
minha cama, até que se pronunciou.
– Parece... Mas, na verdade, são
pouco mais de duas horas da tarde. – suas mão tocavam meu pulso, mas seus olhos
estavam pousados em seu relógio de bolso – Está normalizando agora.
– O que houve? – não achava que
estivesse doente... Não poderia ficar doente... Não agora...
– Sua pressão caiu... – disse
Richard, levantando-se de onde estava sentando e vindo deitar-se ao meu lado na
cama. Seu rosto muito próximo ao meu e seus braços envolvendo minha cintura. –
Não se preocupe! Todos estão organizando-se para nossa caçada. Você pode
descansar, Susy.
– Todos saíram? – surgiu em mim um
misto de receio e preocupação – Com esse tempo?
– Sim... – ele acariciava-me o
cabelo... Podia sentir seu hálito, enquanto falava – Anne foi tratar dos
suprimentos e agasalhos. Flourbe e o advogado foram procurar por munição e
outros detalhes.
– E você? Por que está aqui?
– Sou seu médico, esqueceu? E An
está preocupada, quer que você melhore logo. – e encostando seus lábios em meu
ouvido – Desejava um momento à sós com você, minha Susy.
– Não... – comecei a reclamar, mas
seus lábios comprimiam os meus... Estava presa entre meu travesseiro e Richard,
sem poder mover-me...
Quando, bruscamente, ele
soltou-me... Tudo aconteceu muito rápido... Vi Douglas Stenner e Richard
Thompson em uma batalha particular, um distribuindo socos contra o outro...
Ainda não me sentia com forças para reagir...
O dirigente da hospedaria, um homem
alto, loiro e corpulento, apareceu à porta do quarto e, imediatamente, adentrou
o recinto aos gritos, separando os dois rivais. Não entendi uma só palavra do
que ele havia dito, mas diante daquela situação Thompson retirou-se. O homem
loiro virou-se para mim, falou mais algo e, também, se retirou, batendo a
porta.
Douglas veio sentar-se ao lado da
cama.
– Como a senhorita está?
– Estou bem... Apenas zonza com tudo
o que tem acontecido. – respondi, posicionando-me melhor na cama, para vê-lo.
Ele acariciou-me o cabelo e deixou que
o silêncio pairasse entre nós. Seus olhos investigavam meu rosto, talvez
procurando sinais de melhora, ou respostar aos seus inquietos pensamentos do
que havia acontecido antes de sua chegada.
Assim
ficamos até que Anne chegasse, a qual pediu-lhe para que se retirasse. Deveríamos
apressar-nos... Logo doutor Volter chegaria.
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