Floresta Negra - Parte I
Conforme andávamos, a floresta
ficava mais densa. O sol já sumira a muito e o brilho das estrelas não nos
alcançava. Não podíamos parar para descansar. Aquele era um local perigoso. Todos
sabíamos o que algum descuido poderia causar.
Dias antes, havíamos chegado a encosta daquele vale e,
desde que começamos a caminhar por ele, tudo era mais arredio. Os dias, mais
escuros. A floresta que começava esparsa afunilava-se densamente e o caminho
tornava-se tão íngreme em alguns pontos que era preciso apoiarmo-nos em troncos
para não desviarmos da trilha. Ao longe, um leve som de água fazia-nos crer que
havia um rio próximo, o que, naquele local, não seria motivo de felicidade.
Desde o momento em que entramos na carruagem e
atravessamos os portões, deixando para trás o conforto do lar, sentimos em
nossos corações o peso que esta jornada nos traria. Uma angustia sombria
crescia em nossa mente e nós sabíamos que ela só acabaria quando enfrentássemos
nosso destino.
Caminhamos para leste por cerca de cinco horas, até o sol
se pôr. Foi quando mudamos de rota, porque havia uma enorme rocha à nossa
frente. Agora íamos para o sul, em direção ao som do rio. Iriamos seguir por
ali até que a floresta nos permitisse voltar a trilha original.
O silêncio acompanhava-nos. A floresta não produzia sons,
eram árvores mudas e, se havia animais, estes estavam escondidos. O vento
estava parado. Nem uma brisa podia ser sentida. Não nos atrevíamos a quebrar
aquela quietude. Não com uma noite em breu abraçando-nos.
Permanecemos no caminho para o sul até o sol nascer
novamente. Com seus raios imbatíveis, podíamos ampliar nosso campo de visão. Não
que todos estivessem limitados, mas essa situação era mais confortável.
O barulho produzido pelo rio havia ficado mais forte. Decidimos,
então, permanecer para o sul e vislumbrar aquelas águas. Andamos por mais
algumas horas até ele. Sua água era cristalina e nele havia muitas rochas, o
que criava ondas e espuma na forte correnteza.
Aproveitamos o momento de luz e a orientação do rio para
alimentarmo-nos, cada um à sua maneira. Como nossa viagem não nos exigia
significativa bagagem, não tínhamos atrasos, nem preocupações nos momentos em
que nos separávamos por qualquer motivo.
Após a pausa, guiamo-nos pelo leito do rio. Havíamos decidido
que adentraríamos novamente a floresta ao cair da noite, retomando nossa trilha
para leste. Não caminhamos muitas horas, sob um sol cada vez mais frio, até que
um vento congelante começasse a cortar a densidade daquela vegetação e
atingisse nossos ossos. Deveria ser prenúncio de inverno... Talvez...
Entramos na floreta, subindo para o norte, tentando nos
aproximar ao máximo da marcação que havíamos imaginado para o melhor caminho a
seguir. Conforme subíamos, uma espessa névoa formava-se à nossas costas e
avançava rapidamente em nossa direção.
A imagem da trilha estudada no mapa de viagem, antes tão
clara, agora tornava-se tortuosa e confusa. Estávamos envoltos pelo nevoeiro e
a temperatura era baixa. Seguíamos com dificuldade... Todos nós... Sentia minhas
veias contraírem. Era uma sensação horrível... Não paramos, apesar de tudo. Ainda
não havia lugar seguro para descanso.
Quando os raios do sol voltaram a despontar, a névoa estava
baixa. Podíamos ver o caminho... Um caminho que não foi conscientemente
escolhido. Estávamos em uma das curvas do vale. Talvez mais a norte ou mais a
oeste do que deveríamos. Dali não seria possível retornar a antiga localização.
Toda a vegetação ao nosso redor era muito semelhante. Havíamos perdido de vista
os pontos que marcavam nossa trilha. A única solução, naquele momento, era
mudarmos nossos planos.
Foi uma pausa rápida. Não poderíamos
demorar em uma decisão. Seguimos em frente, onde quer que as serpentes daquele
caminho dessem.
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