INDICAÇÃO DE LIVRO:; "OLHOS D'ÁGUA"
O livro
“Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que cor eram os olhos de minha mãe?”
(p. 15)
É com esse questionamento sensível e cheio de angústia que Conceição Evaristo nos convida a embarcar em uma leitura densa, dando início ao texto que nomeia essa obra incrível. “Olhos d’água” reúne contos diversos e emocionantes. Quinze contos, no total.
Publicada em 2014, período de intensa agitação, em que as discussões sobre o racismo e suas heranças já estavam em pauta. É uma leitura essencial para pensarmos os problemas sociais e raciais enfrentados por uma série de sujeitos historicamente marginalizados, bem como os avanços, as mudanças e as permanências dessas violências. Entre as tantas histórias trazidas pelo livro, destaca-se a experiência (ou escrevivência) da mulher negra no Brasil.
A memória
Meu primeiro contato com essa obra foi há alguns anos, ainda durante a graduação. O ano era 2015. O local, a sala de reuniões do PIBID de Educação em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. O conto lido foi “Maria”. A voz era de uma mulher negra, empoderada e inspiradora. Compartilha a mesma cor de Maria, Natalina, Zaíta e Ana Davenga. Seu nome é Cícera.
“Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. As flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo.”
(p.17)
A leitura
A experiência de ler Conceição Evaristo é sempre impactante. É uma costura minuciosa de emoção, dor, crítica social, memória, experiência, ancestralidade e esperança.
“Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso molhado... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía.”
(p. 17)
A excelência
Os protagonistas parecem tão reais quanto nossa vizinhança, nossa família, nossos amigos… Cruzamos diariamente com Marias, Lumbiás, Anas, Cidas, Zaítas e outras tantas e tantos.
É partindo da experiência real que a ficção é construída, tornando a identificação imediata.
“E quando, após longos dias de viagem para chegar à minha terra, pude contemplar extasiada os olhos de minha mãe, sabem o que vi? Sabem o que vi? Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. (...) E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum!”
(P. 18 e 19)
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