Valsa pra lua: "Elena" e as dores de quem vai e quem fica


Você provavelmente já ouviu falar de Democracia em Vertigem (2019), documentário que narra os acontecimentos que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e como o cenário representava perigo às democracias do mundo. Quem assistiu ao documentário provavelmente sentiu a mão da diretora, Petra Costa, abordando os fatos políticos relacionados à sua vida pessoal. O mesmo ocorre com Elena, mas de forma mais profunda, delicada e intimista.

Elena (2012) se centra em três eixos, o principal deles Elena, os outros dois irmã e mãe que carregam a dor do luto, da culpa e da saudade. A irmã, Petra, tenta reconstruir a trajetória de Elena, do nascimento até depois da morte, por documentos, relatos, fotografias, vídeos e, por fim, pela própria memória.


Elena é uma criança muito alegre. Cresce criando histórias e gravando filmes caseiros, alimentando seu sonho de ser atriz. Já adulta, muda-se para Nova York, dedicando-se aos estudos em atuação e realizando testes para papéis. Frustrada por não conseguir avançar, seu quadro depressivo piora. A mãe e a irmã vão morar com ela em Nova York para dar apoio psicológico, mas não conseguem evitar que Elena dê fim à sua própria vida.

Enxergar a atriz em ascensão pelos olhos da jovem Petra nos aproxima das dores da família, que agora carrega no peito a memória de alguém que era muito amado e que escolheu partir. O fantasma de Elena segue Petra, que faz tratamento psicológico para o pânico e o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) desenvolvido após a morte da irmã.

"Eu me vejo tanto nas suas palavras que começo a me perder em você."


Tenta fugir, correr do passado, até que percebe que talvez deva olhar para trás.

Começa, então, a acessar as memórias de sua irmã. Todos os filmes caseiros, testes de papéis, diário, cartas… O abraço à memória a ajudou a superar o luto.


“O medo de que eu fosse seguir seus passos começou a se desfazer,
mas eu continuei achando que você, Elena, estava dentro de mim,
era um estar em mim…”

Petra então dirige seu primeiro longa-metragem para fechar a ferida aberta. Documenta a própria irmã, narra seus passos e possíveis sentimentos, além de revelar que, mesmo seguindo os passos da irmã na atuação, inclusive indo também para Nova Iorque para estudar, não teve o mesmo destino dela.

A partir disso, aceita os acontecimentos e a perda do ente querido. Abre mão da culpa. Permite, assim como na última cena do filme, que os sentimentos fluam livremente

“E eu, com muito mais consciência para sentir sua morte dessa vez.
Imenso prazer que vem acompanhado da dor.”

Elena é dor que precisa ser sentida.


Trailer - Elena


Escrito por Laura Penha

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