Terror

Olhando para essa sombra informe que está projetada à minha frente e que me paralisa todos os músculos, lembrei de certa vez em que um dos poucos amigos que ainda me restam me disse no decorrer de uma conversa que o terror pode se manifestar das mais variadas formas. Achei curioso e desde então essa ideia não saiu da minha cabeça.

Cansei de acordar no meio da madrugada com gritos vindos da sala de visitas na casa dos meus pais. Meu quarto era pequeno e ficava no andar de cima da casa. Eu levantava, abria a porta, descia as escadas e andava lentamente, passo por passo, até chegar ao final do corredor que dava acesso à sala. A escuridão cobria quase tudo ao meu redor.

A cena era sempre a mesma: luz e sombras em movimento projetados na parede, gritos agudos de dor, pancadas de objetos metálicos estridentes e meu pai tombado no sofá com a cabeça caída e a mão alva e débil recostada no colo, cujas veias pulsantes saltavam ritmadas. Ele havia dormido e seu ronco era alto e desagradável. As cenas macabras dos filmes continuavam a cintilar na tela da TV, quase a esguichar sangue e pedaços de corpos mutilados em nossa face, até que eu pegasse o controle remoto e a desligasse.

Minha mãe sempre reclamou daquele gênero de filme “absurdo e violento” e se benzia toda vez que passava pela sala e via meu pai assistindo alguma possessão demoníaca. “Já, já a casa vai estar repleta de demônios de tanto que entram aqui por essa televisão!”. Meu pai simplesmente não se importava e continuava a assistir, até que pegasse no sono outra vez. Para mim, isso era terror e não havia outra definição.

De quais outras formas o terror poderia se manifestar, então? Eu descobriria isso mais cedo do que seria capaz de imaginar …

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