Sombra?

"A mim não importa ser a sombra
Quando você é a figura"

Essa música é uma das mais lindas que já escutei. E tenho que admitir: ela me toca profundamente, de uma forma extremamente intensa e melancólica. Eu sempre fui uma pessoa muito triste e nunca admiti isso. Sabe, às vezes, na maioria das vezes na verdade, é mais fácil ser má a ser sensível. Enfim.. Qual é o problema da música que eu acho tão linda? NÓS NÃO TEMOS QUE SER A SOMBRA DE NINGUÉM!

Desde muito jovens somos duplamente enganadas, falo da minha experiência de construção como mulher e da maioria de nós, ocidentais: 1) Somos ensinadas que um dia vamos encontrar um príncipe, um homem de "verdade", alguém que nos compreenda e nos ame, que nos coloque acima de tudo. A maioria de nós mulheres, fomos e somos, direta ou indiretamente ensinadas a isso, seja por meio da literatura Universal, em personagens como Branca de Neve, Bela, Aurora e todas as outras, seja pelas novelas que nos chegam cotidianamente por nossas telas, os nossos amores da televisão, ou do Facebook nesses tempos virtuais, enfim... Essa é a primeira grande lição da construção de ser mulher. 

Quando falo construção de ser mulher, me refiro a um ideal comum em nossa sociedade e que é tomado como padrão, que é o da mulher heterossexual, ou seja, aquela que nasce para gostar de homem. Somos ensinadas a isso, mas isso nem sempre acontece. Contudo, ser ensinada a gostar de homens não é natural. 

O problema é quando acontece uma outra coisa, e por isso no início falei de duplamente enganadas: 2) Nós mulheres, em maioria, descobrimos, cedo ou tarde, que os homens não são príncipes, que o amor não é essa coisa tão bonitinha e que nem sempre finais felizes estão destinados a nós e nossos "hombres". E isso é difícil de superar. Por isso falo de sermos duplamente enganadas! Ao mesmo tempo que somos ensinadas a acreditar no amor e no mito do homem perfeito, somos também, mesmo que às vezes mais tardiamente, a desacreditar nisso tudo (e pior, a nos conformarmos) Como canta Vanessa da Mata: 

"Eu cresci ouvindo anedotas, clichês e
Chacotas
Frustrações
Sobre amasiar, se casar
Se entregar seria fraquejar"

Ou como de forma rouca e incrível cantou o vocalista do Nazareth, na música Love Hurts:

"Love hurts, Love scars, Love wounds' and marks"

Isso tudo pode parecer uma grande besteirada, mas causa imenso sofrimento. Quantas mulheres não esperam encontrar um homem que as queira e abandone tudo por amor? Quantas mulheres não sofrem ao saber que os homens que amavam não passam de seres humanos comuns (e não príncipes, como desde criança aprendemos), que podem ser violentos, cruéis, assassinos e fazer coisas que nos marcam para o resto de nossas vidas?

Isso não é besteira! 

Então, qual seria a solução de nossos problemas, senhora Ciborgue de Marte? Alguém pode me perguntar, ou querer saber disso. Eu não sei a resposta. Mas penso muito nela e algumas coisas me vem a mente: A primeira delas é que precisamos repensar nossos padrões de relações, refletir nossa relação com o outro, seja esse outro um homem ou uma mulher. O modelo patriarcal e a história de conto de fadas não nos serve, pelo contrário, é extremamente violenta. Segundo, precisamos conversar com nossas meninas (e com os meninos também): mulher gostar de homem não é e não precisa ser uma regra. Terceiro, todos os dias, por mais que doa ou que seja sofrido, precisamos sempre procurar motivos para seguir, mesmo que não tenhamos "um homem pra chamar de seu". Isso precisa ser superado. Nós mesmas é que precisamos nos amar, eu sei o quanto isso é difícil, acreditem, eu realmente sei. Mas, todos os dias somos capazes de renascer das cinzas, carpe diem: aproveite o dia. Ou como diria o personagem do mais recente ganhador do Oscar, o ator Leonado DiCaprio quando interpretou Jack no filme Titanic: Faça valer a pena. Todos os dias é uma chance de recomeço. O tempo não pára, como já falava Cazuza. Ele voa. E aí? 

Eu quero recomeçar. Eu quero fazer valer a pena. Você quer tentar? Vamos juntas. 


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