O despertar no paraíso das bestas

Ao despertar olho ao meu redor.
Primeiro o teto, com a pintura gasta,
depois a janela
aberta ao sol bestial de domingo...
a nudez do seio da mulher ao meu lado
e finalmente as garrafas deixadas no chão,
sempre num canto onde se possa quebrá-las 
com um tropeço de manhã...

E olhando suas formas, nem sempre uniformes,
(sua fragilidade e desencanto.)
percebo por vezes como são Humanas, passionais...

Mas...como pode ser?
Ontem à noite as bebi.
A garrafa de vinho ontem era Eu ou alguém.

E depois de saciar e beijar a última face embriagada
estava vazia, acabada,
como todos no fim da vida...
guardando apenas em seu ínfimo
interior um resquício de seiva.
E podia ser jogada no escuro para que no dia seguinte
fosse levada com o resto de tudo na mesa de jogo?
Somos nós?
Sendo consumidos, vaporizados,
pela pressa, pelo tempo, sendo bebidos pelo sangue aos goles pela morte?
Bebidos pelo universo sombrio? O universo solitário que nos toma aos poucos
pelo gargalo e depois adormece caído no infinito?
-A vida é uma armadilha de Deus... Pensei. Então, foda-se.
E voltei-me para a mulher... Ela havia acordado e me sorriu.

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