Prata Lunar



    Sentou na areia da praia, com a madrugada começando, e só deixou o peso do corpo se acomodar aquele chão fofo. Deixou a garrafa de vinho de lado, esticou as pernas, pôs as mãos sobre aquela areia apertou, enchendo as palmas de terra. A lua estava cheia. Era a única luz naquele lugar.

  

    Ah, como era bom finalmente estar sozinho para chorar.


    E ele chorou. Deixou as lágrimas correrem pelo rosto. Liberou-as, libertou-as. E elas escorreram pelas bochechas, gotejaram pelo queixo, até caírem na areia e se misturarem com sal marinho. Seu rosto permanecia estático, enquanto ele olhava a lua e admirava a maré. Ela ainda estava baixa, o que lhe dava algum tempo antes que tivesse que fazer o esforço de mover-se e procurar outro lugar.


    As ondas quebravam o silêncio da noite, quebrando nas pedras mais adiante. Ele deitou-se na areia, olhando as estrelas que inundavam o céu, como gotículas de luz sobre um véu de escuridão. Ainda chorando, ele adormeceu.


    Acordou minutos depois, ouvindo um crepitar de chamas. Olhou para o lado e lá estava a fogueira, com pessoas ao redor. Seus olhos ainda estavam meio embaçados com a sonolência e as lágrimas, e a luz forte da fogueira não permitia que ele conseguisse distinguir os rostos daquela trupe animada, que ria e bebia no meio da fogueira.


    Exceto por um rosto.


   Um lindo rosto com olhos de prata.


    Ela estava olhando para ele, diretamente. Seus lábios rosados de vinho sorriam um sorriso de curiosidade e malícia, posto que parecia que ela era a única que o havia notado até aquele momento. Seus cachos caiam sobre a testa, e às vezes cobriam os olhos brilhantes e arregalados. Olhos ímã, que atraíram e prenderam seu próprio olhar.


    Ele não conseguia parar de olhar. Ela levantou-se, afastou-se da fogueira e foi andando até ele.

    

    A luz da lua batia na pele dela e refletia, branca como era. Seus olhos já não eram mais prateados, mas sim verdes, que deveria ser a cor verdadeira deles. Ela estava vestindo uma tomara-que-caia azul clara, com uma saia rodada de mesma cor, descendo até os joelhos. Ele notou que ela estavam sem sutiã.


    Ela sentou-se ao seu lado, abraçando os próprios joelhos e colocando o rosto sobre eles.

—E aê… Tudo bem?

—Ah… É, tudo bem.


    Ela disse o seu nome, e ofereceu a mão em um aperto. Ele apertou a mão e disse seu nome também. Ela contou que estava viajando com os amigos, que decidiram sair de madrugada para beber em volta de uma fogueira, coisa que nunca fizeram, mas tinham vontade, porque a mãe dela disse que era bem legal.

    

    Ele nunca havia bebido em volta de uma fogueira.

    

    Ela riu dele, e colocou a mão no seu ombro.

    

    Aquilo levantou um sinal de alerta.

—Mas e aê… por que você tá aqui sozinho?

—Nossa – ele começou, respirando fundo – na real, eu nem sei dizer… Tem tantos problemas, que eu nem sei qual escolher pra me justificar.


Ela riu de novo, tomou um trago de vinho. Ele acompanhou.

—Perdeu uma namorada?

—Também.

—Nossa, e tem ainda mais?

—É o que eu falei… São tantos problemas…


    Que a vida até perde o sentindo


    Ele sentiu as lágrimas voltarem aos olhos. Tentou sorrir para ela, mas o sorriu saiu torto, e ele preferiu virar o rosto.


    Ela chegou mais perto dele e colocou o nariz no seu pescoço.

—Você, além de bonito, é bem cheiroso.


    Dessa vez, foi ele que riu.

—Pra um cara bêbado adormecido na praia, você quer dizer, não é?

—Você sempre estraga os elogios que as pessoas fazem pra você? - Ela riu.


    Ela beijou o rosto dele, e logo a boca dela escorregou, e encontrou a boca dele no caminho. O beijo dela tinha um gosto de vinho barato, sal e metal. Os olhos dela já não eram mais verdes, mas azuis, o que era estranho, pois ele tinha certeza de que eram verdes da última vez que reparou.


    Ele beijou-a mais ainda, sentindo-se estranho por permitir que aquilo acontecesse. Ela apertou seus cabelos com a mão, e ele ficou excitado, porque adorava que puxassem seu cabelo. Ela ofereceu-lhe o pescoço, e ele beijou, lambeu, mordeu. Ela deu um suspiro mais forte, e isso o acordou de uma espécie de transe.


    Ele se afastou dela, um pouco afobado.

—Desculpe – ele disse – eu não devia ter feito nada disso. Eu não to legal.

—Eu que lhe peço desculpa. Estava tentando lhe animar.

—Você tem um jeito ousado de animar um estranho que você acabou de conhecer na praia.

—E você tem um jeito próprio de se diminuir quando quer falar de atitudes estranhas de uma garota que obviamente se interessou por você na primeira olhada.


    Ele se sentiu mal por aquilo. Pediu desculpas sem olhar para ela.

—É que hoje foi um dia difícil.

—Já é madrugada. Seu dia difícil ficou pra ontem.

—Olha… Não me entenda mal. É que tem muita coisa acontecendo. Muita coisa ruim. A vida não anda valendo muito a pena nestes últimos tempos.

—Nem agora? - Ela falou sorrindo e balançando os joelhos.


    Era difícil dizer qualquer coisa contra aquele sorriso.

—Eu imagino que você deve estar uma merda… Mas sabe qual é? A vida vale por um momento. Um momento.

—Como é?

—É! Olha, minha vida também não lá um mar de rosas, mas sabe… eu cansei de esperar por uma vida tranquila pra sempre. Eu tento fazer com que o momento que eu to vivendo valha a pena.

—Essa é uma conversa bem estranha.


    Ela gargalhou alto.


    Ele olhou para trás. A fogueira ainda queimava, e os amigos dela ainda bebiam e riam. Seus rostos ainda não eram compreensíveis, e ele tinha desistido de tentar identificá-los.


    Ela levantou-se e andou até perto do mar, de frente pra lua.

—A vida das pessoas é tão medíocre e repetitiva. Todos tentando conquistar coisas que as vezes nunca vem. Quando vem, as vezes não dá pra aproveitar. Não te parece um ciclo sem fim?


    Ele não estava entendendo nada, mas ver aquela garota estranha se movendo à luz do luar fazia que isso importasse pouco.

—Eu quero viver um agora que valha pela vida. Se eu conseguir fazer isso cada momento, posso levar essa passagem pela Terra adiante sem problemas.

—Mas isso é impossível! Não dá pra sempre ter momentos memoráveis!

—Eu sei – Disse ela, enquanto se aproximava de volta – é por serem raros que são memoráveis. E se a gente não tentar procurá-los, criá-los e aproveitá-los, daí é que a vida não tem nenhuma graça.


    Ela tirou o tomara-que-caia. Os pequenos seios duros de tesão e frio.

Então… Que me ajudar a deixar este momento aqui memorável?

    

    Ele tirou a blusa, enquanto ela deixava a saia cair na areia. Ele começou a tirar o calção enquanto ela deitava em cima do seu corpo, beijando-lhe o peito. A boca dela desceu pelo abdômen, achou o calção, que ela puxou com as mãos, e finalmente o pau dele. Ele arregalou os olhos ao sentir o calor daquela boca, as mãos apertaram a areia e um suspiro forte escapou pela boca.

    

    Ele olhou para a fogueira. Não havia mais nada. Nem amigos. Ele começou a falar algo, mas ela já havia sentado sobre ele, movendo o quadril para lá e para cá, cavalgando-o, e então qualquer palavra que saiu de sua boca perdeu a forma.

    

    A luz da lua desenhava sua silhueta contra a escuridão. As mãos dela correram pelo seu peito, e ele jurava ter sentido os dedos dela penetrando sob sua pele, numa dor tão potente quanto revigorante. Os olhos dela eram de novo prateados, e as penas das asas dela brilhavam como se fossem de prata.


Viva por um momento.


Um momento que valha a vida.


Ele suspirou alto e gemeu de prazer.


A maré começou a subir.

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