Ruby e a solidão da mulher negra

Ruby Baptiste é uma personagem da série Lovecraft Country. Ligada aos personagens principais, é irmã da companheira do protagonista, Letitia. Ruby tem participações muito importantes nos conflitos que história apresentou.

Ruby é uma mulher negra e gorda, fora dos padrões estéticos hegemônicos e que apresenta, ao longo de toda a história, o peso dos muitos traumas que viveu.


É órfã de uma mãe que parecia se preocupar mais com a outra filha do que com ela, não tem um parceiro ou marido, nem é objeto do desejo de ninguém. Ela é uma cantora mas não é famosa e não conseguiu um bom emprego pelo estigma de ser uma mulher negra e pobre.


Ruby é uma mulher forte e solitária. 


Quando escutei a primeira vez a expressão "a solidão da mulher negra'', foi de uma querida amiga e historiadora, que se chama Cícera Barbosa. Cícera sempre pautava esse debate em todos os seus círculos: amigos, alunos, companheiros de trabalho e universidade.


A partir do que Cícera despertou em mim, comecei a estudar e escutar. As mulheres negras são as que recebem a menor remuneração e sofrem vulnerabilidades de todas as ordens: econômicas, políticas, sociais e afetivas.


Lovecraft Country é uma série americana, baseada nas histórias de um autor com posicionamentos xenófobos e racistas. A série tem como protagonistas pessoas negras e para além da fantasia e magia, a centralidade está nos conflitos e narrativas desses personagens. 


Ruby é uma mulher preterida, pela sociedade, pelos homens brancos e também por seus parentes. Por ser uma mulher forte, as pessoas não lhe dão a devida atenção e carinho, os homens brancos mantiveram contatos sexuais, mas não desenvolveram relações afetivas e duradouras.


Assistir Ruby na série é um questionamento constante de como a cultura racista anula a vida de mulheres, como lhes nega o básico, como o amor e a afeição de outras pessoas.



Reprodução/ HBO


A trajetória de Ruby é marcada pela solidão da mulher negrae pelo sentimento de se sentir usada.

Ao conhecer um homem branco, no bar, em um momento de extrema fragilidade, ela deixa evidente que ele não era o primeiro branco a querer levar ela "pra cama".


Ela é solitária, tem compreensão das violências que sofre por ser negra e deixa isso evidente nos discursos e nas experiências retratadas na série.


Ao conhecer esse homem branco, através da experiência dele com magia, ela ingere uma porção que permite que ela tenha a aparência de uma outra pessoa: uma mulher branca.


No primeiro contato com a sociedade como uma mulher branca, quando a polícia a aborda em um bairro negro, ela relata a experiência: aquela era a primeira vez que ela sentia que não tentavam machucá-la, mas protegê-la.


Lembrei, imediatamente, de tudo o que a minha amiga Cícera sempre pautou: até quando as mulheres negras serão preteridas?


Texto de Marcela S Santos

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