Sonho

 

    Nos meus sonhos, é assim que acontece.

    É fim de tarde, e estou em uma casa simples. Sozinho. Eu consigo sentir o vento trazendo o cheiro do sal. Estou perto do mar. 

    Andando atarantado, pegando as coisas que preciso para fazer um café. Tem uma cadeira de balanço na entrada da casa, esperando para ser colocada na calçada da rua. A chaleira começa a chiar, e eu me apreço para pegar o café e o coador, colocar a garrafa térmica em cima da mesa e a minha xícara, com uma ilustração de Tarsila do Amaral, fica de boca aberta esperando o líquido negro e quente que ela bebe, junto comigo, todos os dias naquele mesmo horário.

    O sol começou a descer.

    O cheiro do café se misturando com o cheiro do sal.

    Minha trilha sonora são as ondas quebrando na areia.

    Eu abro a porta, pego a cadeira de balanço, uma armação de alumínio com elásticos enrolados, e coloco ela do lado de fora, na calçada, virada para o oeste, que é onde o sol está.

    Não há ninguém além de mim.

    Eu me sento e me encosto, olhando para o céu, que está misturando azul e vermelho na sua tela colossal, com uma bola em chamas descendo pelo horizonte. A cadeira balança um pouco, porque ela foi feita para isso. Eu coloca a xícara na boca, e bebo uma dose de café quente, sentindo o vapor que sai daquela xícara entrar pelo meu nariz.

    Não há ninguém além de mim neste mundo que eu criei.

    E o dia acaba, com o silêncio de uma solidão escolhida.


Texto de Alexandre Alves

Comentários

Segue a gente no Facebook ;)

Seguidores

Outros textos que você pode gostar