Irmãs - Parte III

Manicômio

I

Os corredores eram largos e todos os ambientes eram pintados de branco. Levaram-me para um dos quartos. Nele havia muitas camas, todas de ferro e com amarraduras de couro com feixes de metal. Minha cama era a penúltima da fileira da esquerda, próxima a uma das grandes janelas de madeira que decoravam uma das paredes.
Os dois homens colocaram-me sentada na cama, desamarraram a camisa de força e, imediatamente, senti uma forte picada em um dos braços, pouco abaixo do ombro. Era um sedativo. Senti meu corpo relaxar e, em seguida, minha mente começou a ficar leve e meus olhos escureceram.
Acordei amarrada a cama. Meu corpo estava imobilizado. Tentei mover minha cabeça, contudo não consegui. Estava totalmente estática. Foi então que percebi que minha boca estava seca. E assim permaneceu não sei por, exatamente, quanto tempo.
Ouvi passos no corredor e tentei chamar quem passava por ali, mas minha voz não saia como de costume. Era como se o que prendesse minha cabeça, imobilizasse, também, minha boca. Tentei novamente mais alto e creio que pelo silêncio do recinto, dessa vez fui ouvida.
Uma mulher alta, de pele alva, cabelos e olhos castanhos, vestida de branco aproximou-se.
– Finalmente acordou! Você dormiu por vinte horas. E olha que não te demos dos mais fortes.
– Quero água.
– Só terá alguma coisa na hora das refeições... que será apenas amanhã de manhã.
– Que horas são? – Perguntei, tomando consciência de que havia perdido a noção de tempo.
– Duas horas da madrugada. – Respondeu a mulher. – Agora, fique quieta e durma.
Percebi que não adiantaria nada replicar, então, fechei os olhos, fingindo dormir.

II

Acho que realmente dormi, porque acordei sendo agressivamente balançada. Era a mulher que vira durante a madrugada e ao seu lado estava outra mulher. Essa era baixa, loira e tinha olhos verdes. Quando percebeu que eu havia acordado, sorriu-me e ordenou que a enfermeira saísse.
– Foi-me informado que você acordou durante a noite. Como está se sentindo?
– Tenho sede. – Minha voz estava tão rouca que, se não tivesse consciência do esforço que fazia para falar, não a reconheceria.
Ela aproximou-se calmamente, mas com olhos de quem espera algo, alguma reação instintiva, e desamarrou minha cabeça. Pegou um copo com água, que estava em uma mesa ao meu lado, e apoiando minha cabeça com a mão, inclinou o copo para que eu sorvesse o líquido.
O primeiro gole foi horrível. Era como fogo passando por minha garganta. Não podia engolir, não podia respirar. Ela percebeu minha reação e retirou o copo. Tossi repetidamente.
Depois disso, dias se passaram e ela sempre vinha conversar comigo. Sempre perguntando de minha família, dos anos que passei sozinha, como vivi e como sobrevivi a tudo o que me aconteceu. Perguntava sobre Suzanne e como tinha contato com ela. Anotava tudo em um caderno e sorria.
III

Era de manhã, o horário não sei. Não tinha noção alguma de tempo. Todos os pacientes do meu quarto já haviam tomado seus banhos, mas a enfermeira morena disse-me para esperar pois a doutora falaria comigo antes do meu banho.
Quando todos já haviam voltado, a doutora apareceu no quarto com um homem loiro, alto e forte, que me desamarrou da cama e antes que conseguisse ficar de pé, arrastou-me pelo corredor até o banheiro.
Lá ela mandou que ele me amarrasse a um cano, perto dos chuveiros, e me despisse. Ele obedecia prontamente.
Ela olhou-me fixamente nos olhos, em seguida deslizou o olhar pelo meu corpo. Girou o registro do chuveiro, que demorou um pouco a cuspir uma água congelante. Sua mão acariciou meu rosto, desceu levemente por meu pescoço e, por fim, apalpou me seio direito.
– Satisfaça-me. – Ela disse.
Percebi, nesse momento, que o homem não havia ido embora. Suas mãos tocaram meu quadril firmemente e, com uma de suas pernas, forçou-me a abrir as minhas. Tentei me debater, mas ele me impedia. Quando me senti invadida, sem nenhuma piedade, como havia ocorrido em minha infância, tentei gritar.
– Cale-a! – A voz da mulher soava imponente naquele local vazio.
Imediatamente, o homem deslocou uma de suas mãos de meu quadril para tapar minha boca. Em reação, eu o mordi.
– Vadia! – Disse ele. Sua voz era grave. Seria atraente se a situação não o tornasse horrendo.
– Afogue-a.
Ele segurou meu cabelo com tanta força que sentia meus fios sendo arrancados, e puxou minha cabeça para trás. Minha boca, aberta pelo puxão, ficou direcionada para o chuveiro. A água acumulava-se nela, ao mesmo tempo em que batia com tanta força em meu nariz, que logo comecei a me sufocar.
Meus sentidos estavam se perdendo, mas ainda consegui ouvir quando algo caiu. Um estrondo forte. Apaguei.

IV

Por que Catherine não tinha sido levada para o banho? Eu estranhava atitudes como aquela.
No corredor, vinha aproximando-se a doutora Elizabeth Stown. Curiosa... Curiosidade demais nunca me agradou. Ela estava acompanhada de um homem. Podia ver suas correntes. Era como se ele fosse um cãozinho de estimação da médica.
Eles entraram no quarto e ele aproximou-se de Catherine, ergueu-a e a arrastou pelo corredor. Nada pude fazer. Não antes da hora certa.
Levaram-na para o banheiro. Amarraram-na. Felizmente aprendi a não mais sentir a dor física dela. Teria sido horrível, paralisante.
Aquela mulher... divertindo-se com o sofrimento alheio. Satisfazendo seus sórdidos desejos infernais. A raiva já me consumia.
Aproximei-me e parei ao lado dela, observando aquele olhar sedento... sentia meu corpo latejar, gritar de raiva. Agora tinha força suficiente. Segurei a cabeça dela e girei seu corpo em direção a parede. Houve um estrondo com o choque. Segurei sua cabeça novamente e, agora, direcionei-a para o registro de um dos chuveiros. Joguei a cabeça da doutora contra ele várias vezes, até que ouvi seu crânio estalar.
Virei-me para Catherine. Ela estava quase desmaiada. O homem ainda se satisfazia, alheio ao barulho anterior. Um cão adestrado. Só pararia quando sua dona mandasse.
Fui até onde estavam. Liberei as mãos de Catherine e posicionei-me as costas do homem. Minhas mãos seguravam sua cabeça.
– Catherine, acorde. Preciso que me ajude. Catherine... temos que terminar isso.
Seu corpo não se movia, mas percebi que se insistisse ela me atenderia.
- Catherine, erga suas mãos. Segure a cabeça dele.
Ela conseguiu fazer um movimento leve, imperceptível aos olhos comuns talvez.
– Vamos. Ajude-me. Temos que terminar isso, logo.
Ela agora ergueu os braços acima da cabeça e, colocando-os para trás, segurou a cabeça dele. O homem contraiu o corpo, estranhando a reação dela.
– Vamos Catherine, força.
Ela segurou firme e eu direcionei nossos movimentos. Ambas forçaram o pescoço do homem a girar para a direita. Os ossos estalaram. Ele caiu.
Seus olhos estavam arregalados. As pupilas dilatadas refletiam a imagem de Catherine olhando-o fixamente... ou seria a minha...

Comentários

  1. Aff, escrevo mais pra esse blog não. Essa muié me deu um banho...

    Tá maravilhoso senhora... Magnífico... :)

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  2. Obrigada, senhor.
    Considere isso um incentivo para você continuar escrevendo.
    ;)

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