A ilusão da infinitude


Estaríamos nós correndo para a ilusão da infinitude?

Não foi e não é privilégio dos egípcios acreditar na vida após a morte. Ainda estamos sendo provados, como numa espécie de passagem, não da esfera religiosa, mas a do tempo, pelo passado, presente e futuro.

Planeja-se o hoje como se houvesse mais de uma vida.

Vive-se o hoje pensando no que se irá colher no inóspito e imprevisível amanhã.

Mas eu me pergunto: por que corremos tanto para definirmos o nosso próprio tempo num sentido de infinitude?

Corremos em busca do pão diário; da luta diária dos senhores que lavram a terra e das senhoras que amamentam e se viram em incontáveis tarefas; dos funcionários que executam suas atividades da melhor maneira possível em busca de promoção e, da seleção natural em um mercado arredio e canibal.

Busca-se o conhecimento como forma de sobrepor ao status de "eu valho mais que você, então, curva-te a mim", quando o sentido de conhecimento é menos arrogante e humilde do que se imagina.

Corre-se em busca da formação das instituições: famílias, igrejas, classes sociais, raça, cor... Como um parâmetro de agrupamento e defesa desses atores, disseminando-os à eternidade, cristalizando-se e sendo contempladas sem questionamento ou, quando muito, sendo representadas por vozes acaloradas, fanáticas e selvagens, restando poucas exceções à regra e à luz da sensatez.

Corre-se tanto que, às vezes, nos esquecemos o porquê de estarmos correndo a cada dia sem rumo.

Ou quando se tem um rumo ele é abstrato, não definido e tão cheio de faces, metamorfoseando-se em mil, num desespero de chegar lá, satisfazendo aos que nos incubem de expectativas. Muitas vezes apoiando-se nas nossas privações de alegrias e felicidade. O que para nós é um desafio nos tempos atuais.

Corremos atrás das efemérides da mesma maneira que a estabilidade nos é afugentada e escorre pelas mãos. Corre-se atrás das aventuras e das incertezas.

Nada é certo. Nem tudo é errado.

Mas mesmo assim, corremos. Corremos e corremos...

Quando chegamos lá percebemos que corremos em vão. Que o futuro não existe e existe a cada dia, nos detalhes, nas mínimas relações, nos organismos vivos que nos cercam e que nos fazem permanecer como sempre permanecemos: flexíveis e rígidos nas emoções, simples e complexos, um paraíso e um deserto a descobrir.

Corremos no deserto até entrar em areia movediça. Afundamos.

Corremos no paraíso e percebemos que sempre precisamos de mais e mais. Essa é a natureza a que fomos condicionados a se estabelecer.

Fazer previsões? Sim. Por que não?

Mas responsabilize-se pelo paraíso e deserto a serem encontrados. Paralelamente ou em separado. Futuro desconhecido, contemplativo, idolatrado e imprevisível. Este nos cerca, mesmo sabendo que pode não existir.


Jefthael Helano
Jornalista com MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais pela Estácio FIC, Jefthael tem um incrível senso crítico (segundo Laura Penha), é apaixonado por MPB e fã de filmes com psicóticos. Escreve poemas e poesias. Doce e azedo num só frasco.

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