O que você quer ser quando crescer?




Inspirada no último post da maravilhosa Laura Penha, resolvi compartilhar um pouco da minha trajetória na educação.  Os dias não estão fáceis, principalmente para quem decidiu ser professor. Nossa profissão é posta em xeque diariamente, especialmente em períodos de crise. 


O que faz alguém escolher essa carreira? Mais que isso, o que nos faz permanecer nela? Você já pensou a respeito?


O ano era 2002. A professora chamava-se Gercina. A sala estava lotada, como toda sala de aula de escola pública. Ela fez a clássica pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. As respostas foram as mais diversas possíveis: de médico a dançarina do Faustão, teve de tudo. Quando chegou a minha vez, eu já sabia, queria ser professora! Então, respondi: “Bióloga...”. Sim, eu adorava as reportagens com o Richard Rasmussen.


Por que não disse que queria ser professora? Era o que eu gostava, mas não parecia nada muito fantástico aos olhos da turma.


O ano era 2012, o ensino médio estava acabando, o resultado do Enem tinha saído e as apostas começaram. Estava em dúvida entre Letras e História. 

-Sisu, dia 1º, primeira opção: Engenharia Civil. 

-Sisu, dia 2º, primeira opção: Jornalismo. 

-Sisu, último dia, primeira opção: História (o extinto bacharelado). 


O ano era 2013 e comecei o (melhor) curso (de todos os tempos) de História na queridinha UFC. Migrei do bacharelado para a licenciatura no terceiro semestre. Eu estava começando a me encontrar.


Formada já em 2017, iniciei minha árdua busca por emprego na área (e afins). Entreguei currículos, fiz o network, criei perfil no linkedin e por aí vai. Resultado: fui aprovada em um processo seletivo na área do telemarketing. Antes de começar o trabalho propriamente dito, já aos 45 do segundo tempo, fui chamada para dar aulas de História na rede privada. Fui. Era setembro. Quem é professora sabe o que é assumir turmas no fundamental II já próximo ao final do ano… Sim, sobrevivi.


Conciliei o trabalho com meus sextos e nonos anos com uma segunda graduação em Pedagogia. O trabalho era pesado, mas a educação era uma área que eu realmente gostava e mergulhei nisso tudo. Dava aulas no fundamental II à tarde e tinha uma turma de 1º ano (alfabetização) pela manhã. Minhas crianças estavam sendo alfabetizadas e isso era a coisa mais linda do mundo! Dormia pouco, trabalhava muito na semana, aos finais de semana e nos feriados. Minhas costas doíam, minha cabeça doía, mas minhas crianças estavam lendo, meus adolescentes estavam problematizando! Eu estava esgotada. Até que..


Tive que dar um tempo da sala de aula. O ano foi 2019. Foram sete meses em casa, vivendo o drama de realizar seleções na prefeitura e no estado e ao mesmo tempo pensando em mudar de área. 


Eu me questionava diariamente: “Se eu não for professora, eu vou ser o que?”.

No final de 2019, entrei no serviço público como substituta de História em uma escola regular em Fortaleza. Por uma série de fatores, foram meses muito difíceis.


As salas de aula sem estrutura, a desvalorização, o cansaço, o desrespeito, o medo, a ansiedade e o sentimento permanente de solidão do professor no ensino básico são coisas que precisam ser questionadas. 


Precisei mudar alguns hábitos, fiz mais seleções, concursos e processos seletivos. O sentimento de solidão permaneceu forte até que comecei a trabalhar em uma escola de tempo integral, onde me senti efetivamente acolhida. 


Esse ano, após questionar bastante se esse era o caminho certo, passei no famigerado concurso em São Gonçalo do Amarante, iniciei o trabalho em Abril (e não vejo a hora de conhecer meus babies alunos presencialmente!)


Mas para isso, contei com o apoio de uma série de pessoas da família, amigos, colegas de trabalho, gestão, terapeuta. 


É… eu não estava só.


O moral da História é justamente esse: não tem moral! Viver é fazer escolhas: mudar rotas ou permanecer nelas. Eu decidi continuar e assumir os riscos, as consequências e as responsabilidades desse caminho.


E você? O que quer ser quando crescer?

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