The Handmaid's Tale e (re) culpabilização da vítima.

The Handmaid's Tale, no Brasil traduzido para Conto da aia, é uma série televisiva baseadano livro homônimo da autora Margaret Atwood.

A história narra um contexto de destruição ambiental, com histórico uso excessivo de agrotóxicos e devastação dos recursos naturais. Esses fatores teriam provocado, dentre muitos efeitos em outros aspectos da vida social, a infertilidade das mulheres, que não conseguiram mais engravidar ou pariam crianças com características que as impossibilitavam de viver, muitas nascendo mortas.


Nesse contexto, movimentos conservadores empreenderam um golpe e instauram uma ditadura teocrática, conservadora e protestante, instaurando a República de Gilead, onde antes eram os EUA.


Culparam as mulheres que levaram uma vida fora dos padrões religiosos pelos castigos de Deus e pela ausência de nascimentos. As mulheres casadas com os homens que possibilitaram a instauração do novo governo eram as esposas e nas famílias em que essas mulheres não conseguiram engravidar, passaram a usar outras mulheres para essa finalidade, as chamadas aias. 


Reprodução/ HBO


As aias eram mulheres que antes de Gilead se casaram mais de uma vez, não se casaram ou tiveram relacionamentos com homens casados e divorciados. Eram consideradas mulheres de vida pervertida. Elas eram usadas como aias pois já haviam sido mães.


As aias precisavam manter relações sexuais com os comandantes, mesmo contra a sua vontade, com o intuito de parir um filho para a família. A criança era considerada filho da esposa e do comandante mesmo antes do nascimento.


Elas são propriedade do governo, vivem restritas basicamente ao ambiente doméstico e perdem toda a sua individualidade, inclusive o nome.


Ser uma aia é viver sob a violência mais extrema do Estado patriarcal, sem direitos e com uma rotina de violência sexual. Em uma das cenas, uma das aias, Janine, que ainda estava em treinamento para essa finalidade, relatou que havia sido estuprada há anos, ainda muito jovem, por homens que ela nunca imaginou que fariam isso.


Ela, em círculo com dezenas de mulheres, foi acusada por seu próprio estupro do passado, pois ela teria despertado o desejo masculino.


Reprodução/HBO


A série é uma distopia, contudo, quantos relatos e notícias, assim como processos judicias não acabaram com a absolvição dos acusados sob o pretexto que as mulheres seriam culpadas pela violência que sofreram? 


A narrativa nos proporciona uma sensação de medo, pois percebemos que muitos discursos que levaram a instauração de Gilead na ficção são defendidos por alguns grupos cotidianamente, diante de nossos olhos.


Na série, assim como no livro, está explícito que os direitos das mulheres nunca são plenos e estão sempre na mira dos grupos conservadores. 


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