"Sono" - Haruki Murakami: reflexões

Sono é uma obra de Haruki Murakami, escritor japonês, ganhador de vários prêmios e cujas produções foram traduzidas para diversos países. Em Sono, embora o livro tenha sido lançado apenas em 1990, o autor toca em problemáticas da vida atual que foram intensificadas no período pandêmico. 

A protagonista é uma mulher, cujo nome não é revelado no decorrer da narrativa, podendo ser qualquer um/uma de nós.


 “É o décimo sétimo dia em que não consigo dormir. Não se trata de insônia. Pois dela eu entendo um pouco.” (MURAKAMI, 2015, p. 8) 

É assim que o livro inicia, trazendo a surreal experiência desta mulher que, embora esteja há dias sem dormir, sente-se cada vez mais disposta para fazer as atividades que havia deixado de realizar ao embarcar em uma rotina maçante de cuidar de casa, dos filhos e do marido. A trama desenrola-se a partir da percepção da protagonista que se vê postergando seus próprios interesses, prazeres e vida. É evidente a referência de Kafka e Dostoiévski na obra de Murakami.


 “Essa é minha vida. Ou melhor, era minha vida antes de eu não conseguir dormir. De um modo geral, todos os dias eram praticamente iguais, uma mera repetição. (…) Se eu trocasse o ontem pelo anteontem, não faria diferença alguma. Às vezes eu pensava, ‘que vida é essa’. (…) Eu me sentia simplesmente assustada. Assustada por não conseguir discernir o ontem do anteontem. Assustada pelo fato de eu pertencer a essa vida e ter sido tragada por ela.” (MURAKAMI, 2015, p. 13) 

 De maneira notável, Haruki Murakami tece a narrativa a partir da perspectiva da protagonista que observa assustada as atividades que realizava no modo automático e o rumo que sua vida havia tomado até ali. Quando deixou de dormir, ela passou a ter tempo para realizar as tarefas que lhe davam prazer: ler um livro, beber e comer chocolates. O autor brinca de forma brilhante com a relação sono/vigília e vida/morte. 

As ilustrações do livro são de Kat Menschik e complementam a narrativa tornando a obra ainda mais incrível. 

 
Você já teve a sensação de todos os dias serem iguais? Já se sentiu dando voltas e voltas no mesmo lugar? Imagina acordar de um pesadelo e não conseguir dormir… Nunca mais! Sono nos auxilia a refletir sobre estas questões e diversas outras. 


 “ ‘Não preciso dormir’, pensei. Não me importo de ficar louca ou de perder o cerne da minha existência. Por mim, tudo bem. A única coisa que sei é que não quero ser consumida por uma tendência. (…) Sei que minha mente será somente minha. Sou capaz de mantê-la firmemente comigo. Não vou entregá-la a ninguém. Não quero ser curada. Não vou dormir.” (MURAKAMI, 2015, p. 48)

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