Estamos por um fio

É tão fácil simular uma vida que não se tem, as viagens que nunca se fez, os relacionamentos que não passaram de ilusão aos seus e aos olhos sociais, os risos de meia boca e olhares inseguros - frágeis.

Dizer "sim" ao invés de um libertador "não" é precocemente mal interpretado, podendo custar má fama e exclusões de toda a sorte. 

Isso porque, as nossas não-atuais redes sociais provocaram a revolução da felicidade como regra e "bons relacionamentos" forjados e fincados no interesse (seja ele qual for). Mas que não é regra. 

Não adianta por a culpa na virtualidade como justificativa de um completo estado de indiferença de si e dos outros. Isso mesmo. De si: um esconderijo nas entranhas do "eu" somente encontrado num abismo, que quanto mais se remexe mais se cai nele. 

Retifico. Não, não é fácil simular.

E como é oneroso viver a vida que, de fato, se diz ter, mas não se tem, bradando aos quatro ventos aquilo que não compartilha na realidade, para não sofrer retaliações por quem não partilha do mesmo pensamento que o seu, seja ele ideológico, religioso, político... Do contrário, veste-se uma camuflagem adaptável ao ambiente. O resultado? A felicidade aparente que esconde dores impronunciáveis e muros de lamentações intransponíveis.

E como é fácil deixar de curtir/seguir quando o pensamento não é o mesmo. Não queremos mais carregar a culpa de estar onde não queremos estar. Não queremos fingir, mas ainda assim é contraditória e complexa a relação virtual versus real. Fingimos em ambos os espaços. Por convenção, subserviência ou dissimulação.

Finjo tão completamente na virtualidade quanto sou levado a crer que existo na realidade.

Estamos por um fio deixar cair as máscaras que nos sobrepõem.

E por um fio está o medo de que descubram a verdadeira face que de tão sutil chega a ser nociva, sem sintomas de uma mácula odiosa.

E quando não conseguimos mais fingir e manter as máscaras que nos fazem fugir de nós mesmos, magoamos. Maltratamos. Cerramos o punho em prontidão dos socos às diferenças e estranhezas que não são nossas. São dos outros, que para nós amedronta e nos diminue. Eis a nossa luta! Ser melhor em todas as áreas, uma eterna provação de capacidade, não para si, mas para os outros.

Quando deixamos cair as máscaras o caos se estabelece, porque é o caos o que realmente idolatram. E por fim, deixamos de curtir/seguir.

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